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Brain | Como o home office fez nossas empresas ficarem lentas e obesas

Como o home office fez nossas empresas ficarem lentas e obesas

Rodrigo Correa de Barros
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Como o home office fez nossas empresas ficarem lentas e obesas

A pandemia não acabou. O cenário de agora é de um surto grave, de proporções moderadas, mas que ainda nos exigirá os mesmos cuidados: prevenção e responsabilidade. Ainda há reflexos dolorosos na sociedade e seria imprudente afrouxar justo na etapa que determinará a certeza de estarmos seguros.

No entanto, muitas companhias já perceberam que gradualmente podem retomar o ritmo de suas atividades, com frações de suas equipes atuando presencialmente, e esse é um importante sinal para avaliarmos como será o novo comportamento profissional no período pós-pandemia.

É natural que durante a fase negra da crise sanitária, quando estávamos calçando as pantufas, tenhamos elucubrado a respeito do quanto seria interessante trabalhar assim, mais perto da família, realizando tarefas decisivas ou criativas ao mesmo tempo em quê dedicávamos atenção aos filhotes ou à uma nova decoração da sala.

Mas o tempo passou rápido demais (foram quase onze meses de confinamento radical) e com o avanço dos dias fomos nos dando conta que o home office continha em sua ideia matriz alguns efeitos colaterais danosos, tanto para o cérebro quanto para a íntima relação dos profissionais com suas tarefas diárias.

Segundo o departamento de psiquiatria da David Geffen School of Medicine, em pesquisa realizada com trabalhadores das três américas desde o início do surto pandêmico, averiguou-se que mais de 30% da população economicamente ativa e empregada revela não ter maturidade ideal ou conhecimento para desenvolver suas atividades sem supervisão direta e esse número sobe 19% nos países latino-americanos. Significa dizer que em nosso país, mais de 35% daqueles que trabalham em casa não conseguem entregar suas tarefas pontualmente e, para compensar a perda na produção, trabalham até 20% mais. Nasce desse fato concreto um dos mantras pandêmicos mundiais: “em casa trabalho mais que no escritório”. Trabalha-se mesmo. Mas o rendimento é muito inferior.

Para nós os latinos, há um dado ainda mais preocupante. Segundo gráficos da universidade estadunidense, após o primeiro quadrimestre de confinamento 42% dos trabalhadores passaram a sentir sinais de leve depressão, acompanhada de ansiedade diária e incômoda, capaz de acarretar danos reais às funções cognitivas, levando mais de 70% dos sintomáticos ao uso de medicamentos controlados, para dar suporte às funções diárias: o rendimento laboral, que já era mediano, passou a ser fraco, resultando em um aumento de 23% no retrabalho.

Para nós, um povo expansivo que preza pelo convívio, perder a interação humana diária significa, claro, pena capital. O isolamento social, para pessoas de matiz comunicativa e que aprendem, por tradição e pelo exemplo prático é indubitavelmente danoso.

Ensaios conduzidos pelos médicos californianos revelam ainda que à medida em que o tempo de trabalho em casa se alongou, outro fator passou a assombrar os sonhos de quem estava afastado do dia a dia: o medo de ser dispensado por estar longe das decisões relevantes, expresso no aterrador sentimento de estar ficando “invisível” para a corporação.

Ao final do nono mês, os funcionários que realizam tarefas administrativas e estratégicas de campo, e que estavam em casa realizando essas rotinas livres de coordenação in loco, perderam o fôlego, ocasionando substancial perda de ritmo às companhias. Sem o grupo de trabalho dentro dos escritórios, estima-se que mais da metade das empresas brasileiras de prestação de serviços, por exemplo, tenham perdido sua antiga “forma física”. Ficaram gordas, lentas e preguiçosas.  

A soma de fatores é o que fala por si: a perda de rendimento real, a falta de interação humana como suporte ao aprendizado rápido, a incapacidade de autogestão do empregado e a perda do ritmo de trabalho são aspectos suficientemente relevantes para trazer para o escritório, tão logo possível, os funcionários cuja produção dependa da interação entre departamentos e que sejam vitais para o crescimento corporativo.

Os departamentos de RH já sabiam (e agora tem certeza) que o ambiente físico de trabalho é psicologicamente mais estimulante que o Netflix! E mesmo a ideia de um modelo híbrido – para setores que não dependam de colaboração mútua – pode conduzir ao risco de reveses nas organizações de alto desempenho, aquelas com projetos sendo demandados o tempo todo.

Após um ou dois trimestres da saída da crise de saúde, com a economia restabelecida e o ritmo de trabalho nos pressionando como sempre, é bastante crível concluir que o modelo home office tenha sido ferramenta útil para manter abertas as portas, durante o caos, mas de um modo precário. Sua adoção deve ser criteriosa.

Denominado pelos psiquiatras da UCLA de “sombra emocional da pandemia”, esse período custou bilhões de Reais às corporações e pequenas empresas nacionais e nos fez compreender melhor como agimos em época de grandes perdas, desejando compensar o tempo maçante no escritório com um tempo mais agradável em casa, por exemplo. O destaque do estudo foi consolidar o que pensamos sobre a fortaleza emocional das trabalhadoras contemporâneas. Pilares em momento tão complexo, elas resistiram melhor a todos os processos de mudança, dando conta da casa, do trabalho e de si próprias. Apenas 9% declararam ter sofrido com a depressão ou a ansiedade. Para elas, o trauma da era Coronavírus, embora o classifiquem como “tempo de sacrifício”, serviu de inspiração para e como sempre, planejar novos caminhos…

*O conteúdo deste texto foi redigido por terceiros e pode não refletir a opinião da Brain Inteligência Estratégica

Atualizado por último em junho de 2022

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Rodrigo Correa de Barros

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