Atualizado por último em fevereiro de 2023
Sócia Diretora na AW Comunicação
As empresas estão em constante pressão para se adaptarem às permanentes mudanças nas dinâmicas sociais. À medida em que as chamadas minorias se colocam na sociedade, exigindo respeito e visibilidade, as organizações precisam refletir sobre como acolher de maneira harmônica esses diferentes públicos.
A comunicação inclusiva é justamente a busca de linguagens e atitudes comunicacionais que promovam esse acolhimento e combatam a discriminação. Se o senso comum diz: “não basta não ter preconceito, é preciso combater o preconceito”, esse pensamento precisa ser adotado nas práticas cotidianas.
Veja a seguir alguns temas em voga nas reflexões sobre a Comunicação Inclusiva e como podemos adotar práticas mais inclusivas em nossas relações pessoais e profissionais:
Este é o nome que se dá ao preconceito contra pessoas com deficiência. O próprio termo “pessoa com deficiência” é uma convenção mundial recente, adotada para combater expressões anteriores que reforçavam a discriminação. “Portador de deficiência”, por exemplo, é um termo considerado inadequado. Portam-se objetos, não condições.
É importante destacar que o capacitismo é crime desde 2015 e a pena prevista é de um a três anos de reclusão, além de multa.
Outras expressões inadequadas são “deficiente”, “portador de necessidades especiais”, “pessoa com problema (na perna, no braço, no olho...)”, “doentinho”, “criança com defeito”, “pessoa que sofre com a Síndrome de (qualquer que seja a Síndrome)”, entre tantas outras.
Além de buscarmos os termos corretos para nos referirmos às pessoas com deficiência, é fundamental questionarmos outros vocabulários que promovem constrangimentos. É o caso das comparações, quando elas são colocadas como “guerreiros”, “exemplos de superação”. Quando dizemos coisas do tipo “reclamo de barriga cheia, porque não tenho tantos problemas quanto ele (a pessoa com deficiência), estamos reforçando a ideia de que a pessoa não é capaz ou teria motivos para ser triste – o que não é verdade!
Devemos tratar todas as pessoas com naturalidade e obviamente isso se aplica às pessoas com deficiência. Ressaltar a deficiência em vez do potencial é uma forma de discriminação.
Historicamente, temos em nosso vocabulário expressões que remontam à época da escravidão e reforçam preconceitos raciais no Brasil. “Da cor do pecado”, “dia de branco”, “disputar a negra – ou negrinha”, “preto de alma branca” e tantas outras que fazem parte do imaginário popular acabam por reforçar o que se chama de preconceito estrutural, ou seja, propagado pelas pessoas muitas vezes sem que elas percebam que estão sendo preconceituosas.
Atitudes comunicacionais também reforçam as práticas preconceituosas. Mexer nos cabelos de uma preta, por exemplo, dizendo coisas como “adoro esses cachinhos”, “como você cuida dos seus cabelos, deve ser bem trabalhoso, não?” é muitas vezes constrangedor para a pessoa tocada, que se vê exposta aos olhares de todos à volta, como se estivesse em uma vitrine. Outro exemplo é o comentário do tipo “você nem parece negra, tem a pele bem clara”, ambos são visivelmente discriminatórios.
É preciso mudar esses hábitos para sepultar as práticas racistas. Se você se interessa pelo assunto, leia a publicação “Expressões Racistas, por que evitá-las”, lançada em 2022 pelo Tribunal Superior Eleitoral.
As práticas machistas, assim como as racistas, muitas vezes são estruturais. Ou seja: muitas vezes perpetuamos as expressões sem perceber que são discriminatórias, pois são conceitos normalizados por décadas. O machismo não acontece apenas de forma explícita, mas aparece em expressões aparentemente ingênuas e nas brincadeiras do dia a dia. Por isso, é preciso refletir sobre.
Os estereótipos e generalizações presentes em nossa cultura reforçam a discriminação. Dizer que carrinhos são para meninos e bonecas são para meninas é um exemplo, assim como as expressões “menino não chora”, “isso é coisa de menininha”, entre outras. O mesmo se aplica às generalizações, como a ideia de que mulher dirige mal, que deve estar na cozinha, que o sonho de toda a mulher é se casar e ser mãe...
A questão é tão presente na sociedade que até novos vocábulos foram criados para ressaltar comportamentos do machismo estrutural. São neologismos criados a partir de palavras inglesas. Conheça alguns deles, para poder combater sua prática:
Mansplaining: é quando um homem interrompe a mulher para explicar o assunto que ela está abordando. Isso se torna ainda mais evidente quando a mulher é a autoridade no assunto e é interrompida por alguém que não o domina (por exemplo: uma engenheira química falando sobre sua área de atuação e ser interrompida por um homem que não é da mesma profissão) ou quando o assunto é explicitamente feminino (por exemplo, a mulher falando sobre menstruação ser interrompida por um homem querendo explicar o que é menstruação).
Manterrupting: é quando um homem interrompe a fala de uma mulher, sem deixar que ela conclua seu raciocínio. É uma prática comum em ambientes de trabalho, especialmente os mais tradicionalmente masculinos ou de predominância masculina.
Gaslighting: é quando o homem manipula de tal forma a comunicação a fazer com que a mulher pareça louca, descompensada, histérica. Muitas vezes ela mesma chega a duvidar de sua sanidade mental.
Bropriating: é quando o homem se apropria de uma criação da mulher. É comum em trabalhos acadêmicos e organizações, quando, por exemplo, a mulher desenvolve um projeto e o homem assume sua autoria.
Manspreading: é quando o homem “se espalha” corporalmente, avançando no espaço feminino e tocando-lhe o corpo. É bastante comum em transporte público, por exemplo, muitas vezes configurando importunação sexual. O termo também é utilizado quando o homem ocupa deliberadamente espaços destinados a mulheres.
O termo deriva de “homofobia”, palavra criada pelo psicoterapeuta George Weinberg em 1965, e se refere a todo e qualquer tipo de discriminação por pessoas que não sejam heterossexuais e cisgênero (pessoas que se identificam em todos os aspectos com seu gênero de nascença). Ainda não existe tipificação de crime para a LGBTQIA+fobia, por isso os casos de discriminação são enquadrados na Lei do Racismo, que especifica discriminação por cor, raça, etnia, religião e procedência nacional, identidade de gênero e orientação sexual.
Para se ter uma ideia da dimensão e dos problemas gerados pelos preconceitos sexuais, basta ver os números alarmantes de homicídios e suicídios entre a população não-hétero. De acordo com o Relatório do Grupo Gay da Bahia, cerca de 300 pessoas LGBTQIA+ sofreram morte violenta em 2021, sendo 276 homicídios e 24 suicídios. O grupo aponta que, a cada 23 horas, um gay é assassinado no Brasil.
A adoção de um vocabulário mais acolhedor é um passo na luta contra a discriminação desse público. Veja algumas expressões que atualmente são consideradas inadequadas:
Homossexualismo: o termo era utilizado pela Organização Mundial da Saúde quando a orientação sexual não-hétero era considerada um distúrbio (porque o sufixo “ismo” remete à ideia de doença), o que já foi alterado há mais de 30 anos.
Opção sexual: essa expressão dá a entender que as pessoas escolhem sua sexualidade, o que não é real. O termo correto é “orientação sexual”.
Há também aquelas expressões usadas corriqueiramente em tom de brincadeira, mas que reforçam a discriminação, como “traveco” em vez de travesti, “homem afeminado”, sugerindo que a pessoa é menos homem do que outros, “sapatão” para lésbicas, entre outras.
É o caso de frases como “que desperdício!” quando se vê algum gay bonito, “fulano não parece gay”, reforçando que deve haver um estereótipo, “quem é o homem (ou mulher) da relação?” quando se vê um casal homoafetivo, além da disfarçada expressão “não tenho nada contra, mas...” . O que dizer, então, das frases “parece um homem (ou mulher) de verdade!”, quando se depara com alguém trans, ou “tudo bem ser gay, só não precisa demonstrar!”???
Para concluir...
Este artigo é apenas uma breve provocação para iniciarmos nossas reflexões a respeito dos preconceitos contidos em nossa comunicação cotidiana. Certamente o assunto não se esgota aqui, há muitas outras minorias que não foram citadas, outras expressões e atitudes que reforçam a discriminação e a violência, mas está lançado o desafio: como podemos adotar práticas mais acolhedoras e menos preconceituosas em nosso dia a dia? Somos todos responsáveis pela construção de uma sociedade mais tolerante à diversidade.
Adriane Werner é jornalista, especialista em Planejamento e mestre em Administração. Atua em treinamentos e mentorias em Comunicação. É autora de sete livros na área.
*O conteúdo expresso neste texto não necessariamente reflete a opinião da Brain Inteligência Estratégica.