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Brain | Qualidade do Ambiente Interno nos Escritórios x Lucratividade

Qualidade do Ambiente Interno nos Escritórios x Lucratividade

Hamilton Leite
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Qualidade do Ambiente Interno nos Escritórios x Lucratividade

Atualizado por último em abril de 2023

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Hamilton Leite

Head da Brain Inteligência Estratégica em São Paulo

A pandemia decorrente do Covid-19 evidenciou os benefícios e malefícios para nossa saúde, qualidade de vida e produtividade causados pela qualidade do ambiente interno (QAI) das edificações, onde passamos em média mais de 90% das nossas vidas1.

Sundell2 relata que os estudos realizados durante os últimos 150 anos sugerem que pode haver uma relação direta entre a QAI e doenças como o câncer pulmonar, infecções do sistema respiratório, tosse, alergias, asma e outras reações hipersensíveis, dores de cabeça, além de cansaço e irritação.

A pesquisa liderada por Andrea Amerio3 identificou ainda uma relação entre a QAI e a saúde mental das pessoas. O resultado desta pesquisa indicou que habitações precárias, especialmente aquelas menores de 60m2, com vistas ruins, estão associadas com o aumento de até 120% do risco de sintomas moderados ou severos de depressão durante a quarentena. Pessoas que reportaram piora na performance no trabalho em casa eram quatro vezes mais propensas a apresentar também depressão.

E no contexto empresarial existem fortes evidências da relação entre a QAI e o nível de satisfação, de conforto e de produtividade do trabalhador.

Al Horr4 e seus colegas identificaram 300 trabalhos acadêmicos que relacionam oito aspectos físicos de escritórios que estão diretamente relacionados à produtividade dos ocupantes: 1-Qualidade interna do ar e ventilação; 2-Conforto térmico; 3-Iluminação e luz natural; 4-Ruídos e acústica; 5-Layout do escritório; 6-Biofilia e vistas; 7-Aparências e sensações, e 8-Localização e infraestrutura local. Além destes, outros fatores que determinam a QAI são5: umidade, presença de compostos químicos contaminantes de origem interna (tintas, adesivos, produtos de limpeza, amianto, etc.) ou externas (poluição atmosférica), além de contaminantes biológicos (fungos, vírus, bactérias, etc).

Um estudo realizado por MacNaughton6 em 2017, com ocupantes de 10 edifícios de escritórios, mostrou que aqueles que trabalhavam em edifícios certificados obtiveram notas 26% melhores em testes de funções cognitivas, apresentaram 30% menos sintomas decorrentes da Síndrome do Edifício Doente (SED) e 6,4% melhores pontuações relacionadas ao sono, em comparação com aqueles que trabalhavam em edifícios convencionais.

Newsham7 afirma que cerca de 82% das despesas de empresas que mantêm sua força de trabalho em escritórios são com salários e benefícios e os outros 18% estão relacionados à gestão de facilities (manutenção, aluguel, etc) e TI.

Portanto, uma análise de como a QAI afeta a produtividade parece uma abordagem óbvia no contexto de uma boa gestão financeira das empresas, mas ela é raramente realizada. Isso acontece em parte devido ao fato de que os dados para esta análise estão alocados em departamentos diferentes nas empresas (Financeiro, RH e Facilities Management).

De acordo com o professor Derek Clements-Croome8, para uma organização ser bem sucedida e alcançar seus objetivos, a performance expressa pela produtividade de seus funcionários é de vital importância e o ambiente físico pode melhorar ou piorar a produtividade do funcionário. Uma pesquisa conduzida por ele constatou que no EUA o custo anual com infecções respiratórias é estimado em $15 bi e uma redução entre 20% e 50% de sintomas decorrentes da SED correspondem a um aumento de produtividade entre U$15 e U$38 bi, e para trabalhadores em escritórios há um ganho potencial de produtividade entre U$20 e U$200 bi. Já no Reino Unido, um melhor ambiente de trabalho determinaria uma produtividade quase 20% maior, equivalente a £135 bi/ano. O custo de presenteísmo (presente no trabalho, mas improdutivo) decorrente de questões mentais é de £15 bi/ano, o dobro do custo com absenteísmo e o ambiente de trabalho tem um papel importante nisso, em conjunto com questões organizacionais e sociais.

E como o custo de capital nas empresas é cerca de 200 vezes maior do que o custo operacional, um aumento de produtividade de menos de 1% já seria suficiente para justificar investimentos para melhorar a qualidade do ambiente de trabalho.

Por exemplo, os benefícios econômicos relacionados ao aumento da taxa de ventilação de 8 para 15 litros, são de U$38 bi/ano.

Ambientes de trabalho com boa qualidade determinam, portanto, um aumento de produtividade, com consequente aumento de lucratividade. O relatório "Occupier Special Sustainability" publicado pela Jones Lang LaSalle em 2013 indica que, "Melhorar a produtividade e o bem-estar, são os principais motivadores por trás da sustentabilidade."

Pesquisadores de diversas universidades italianas9 apresentam uma série de recomendações relacionadas ao bem estar e saúde para um ambiente saudável, seguro e sustentável em edifícios existentes e em novas construções.

Atualmente existem duas certificações com foco na qualidade de ambientes internos de edificações que são a Well10 e a Fitwel11 que os empreendedores brasileiros podem buscar.

Então desenvolvedores e gestores de imóveis lembrem-se sempre do que Joseph Allen, professor na Escola de Saúde Pública Harvard T.H. Chan disse12: "Se você atua no setor imobiliário, você também atua no setor da saúde."

Acesse bit.ly/artigofiabci para assistir o vídeo com minha apresentação sobre este tema.

 

* Hamilton Leite é mestre em construção civil e urbana (Poli/USP) e Head São Paulo da Brain Inteligência de Mercado.

 

 


Bibliography

1.   Szalai, A. The use of time: daily activities of urban and suburban populations in twelve countries. 1972. The Hague: Mouton (1972).

2.   Sundell, J. On the history of indoor air quality and health. Indoor Air 14 Suppl 7, 51–58 (2004).

3.   Amerio, A. et al. COVID-19 Lockdown: Housing Built Environment’s Effects on Mental Health. Int. J. Environ. Res. Public Health 17, (2020).

4.   Al Horr, Y. et al. Occupant productivity and office indoor environment quality: A review of the literature. Building and Environment 105, 369–389 (2016).

5.   Introduction to Indoor Air Quality | Indoor Air Quality (IAQ) | US EPA. https://www.epa.gov/indoor-air-quality-iaq/introduction-indoor-air-quality.

6.   MacNaughton, P. et al. The impact of working in a green certified building on cognitive function and health. Build. Environ. 114, 178–186 (2017).

7.   Newsham, G. R., Veitch, J. A. & Hu, Y. (Vera). Effect of green building certification on organizational productivity metrics. Building Research & Information 1–12 (2017) doi:10.1080/09613218.2017.1358032.

8.   Clements-Croome, D. Creative and productive workplaces: a review. Intelligent Buildings International 7, 164–183 (2015).

9.   D’Alessandro, D. et al. COVID-19 and Living space challenge. Well-being and Public Health recommendations for a healthy, safe, and sustainable housing. Acta Biomed 91, 61–75 (2020).

10. International WELL Building Institute. https://www.wellcertified.com/.

11. Fitwel | World’s Leading Healthy Building Certification System. https://www.fitwel.org/.

12. Technology That Guides Bombs May Help Protect Office Workers From Coronavirus. Acesso Partners https://accessopartners.com/technology-that-guides-bombs-may-help-protect-office-workers-from-coronavirus/ (2020).

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