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Brain | Smart Cities, cidades inteligentes e sustentáveis*

Smart Cities, cidades inteligentes e sustentáveis*

Hamilton Leite
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Smart Cities, cidades inteligentes e sustentáveis*

Atualizado por último em março de 2023

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Hamilton Leite

Head da Brain Inteligência Estratégica em São Paulo

O conceito de Smart City surgiu nos anos 90 como alternativa aos modelos urbanísticos tradicionais, através do uso de tecnologias de informação e de comunicação para tentar resolver os problemas das cidades. O conceito evoluiu para incorporar outras dimensões, como as que Giffinger e seus colegas1 relacionaram: economia, mobilidade, meio ambiente, qualidade de vida, governança e pessoas. Dentro dessa perspectiva, uma cidade inteligente não pode se concentrar apenas em tecnologias avançadas, mas deve buscar equilibrar estas seis dimensões, para promover o desenvolvimento sustentável.

Este modelo mais moderno considera uma ocupação do território com diversidade de usos e de faixas de renda, além de alta densidade demográfica, que garante a vitalidade das atividades econômicas e a eficiência da infraestrutura urbana. Cidades densas e equilibradas possuem melhor mobilidade para seus moradores, pois são mais acessíveis por bicicleta ou a pé. Isso acontece porque os estabelecimentos de comércio, serviços, educação, lazer e as moradias estão presentes numa mesma microrregião e, consequentemente, o uso do transporte sobre trilhos ou pneus é drasticamente reduzido.

As cidades inteligentes devem responder aos desafios globais, como as mudanças climáticas, instabilidades econômicas, polarização social, crescimento da urbanização, dentre outros (vide figura2) e não devem ser vistas como um fim em si mesmas. De acordo com a afirmação extraída do estudo liderado por Giffinger1, “o objetivo final de uma cidade inteligente é melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes, e não apenas usar tecnologia por si só”.

Nesse sentido, é fundamental que sejam levadas em conta as necessidades de todos os stakeholders, que de acordo com Fernandez-Anez, Fernández-Güell e Giffinger2, são compostos por políticos, sociedade civil organizada, empresas, pesquisadores e os cidadãos, que se sobrepõe a todos os subsistemas. Os Stakeholders são o cerne do "sistema cidade" e são sustentados pelos subsistemas espacial, tecnológico e ambiental, que engloba todo o sistema (vide figura2). 

As necessidades dos stakeholders devem ser identificadas através de pesquisas que elenquem os atributos das smart cities mais valorizados para cada um deles, e com base nos resultados obtidos é possível selecionar soluções mais adequadas para cada região.

Em termos práticos, as cidades inteligentes podem apresentar diversas soluções tecnológicas ou urbanísticas. Por exemplo, a cidade de Barcelona, uma das cidades mais densas do mundo, implementou uma plataforma digital integrada para gerenciar o fluxo de tráfego e monitorar a poluição do ar. O bairro Eixample abriga 35 mil habitantes por quilômetro quadrado e é um centro de vitalidade na capital catalã. Para efeito de comparação, a cidade de São Paulo contava com 7,4 mil hab/Km2 em 2010 3. A escritora Jane Jacobs 4, chamava atenção já na década de 1960, para os efeitos positivos do uso misto e da densificação no ambiente urbano, que potencializam a atividade econômica nas cidades. A cidade-Estado de Cingapura conta com uma rede de fibra óptica de alta velocidade, Wi-Fi gratuito em áreas públicas, uma rede inteligente (Smart Grid) que otimiza o consumo de energia, sensores e câmeras que ajudam a monitorar a segurança pública e o tráfego. Seu sistema de transporte público altamente integrado é composto por trens, ônibus, táxis e um sistema de compartilhamento de bicicletas e de carros elétricos que ajudam a reduzir a poluição do ar e os congestionamentos.

E Copenhague é considerada uma das cidades mais amigáveis aos ciclistas, pois possui uma ampla rede de ciclovias, estacionamentos exclusivos e um sistema público de compartilhamento de bicicletas. A Dinamarca é ainda um país de referência em políticas públicas voltadas para a habitação social e tem uma longa tradição de planejamento urbano voltado para a integração social e a convivência entre diferentes grupos e a qualidade de vida de seus cidadãos, independentemente de sua renda.

No campo da tecnologia, o 5G revolucionará a construção das cidades inteligentes, pois seu enorme potencial deixará rapidamente a esfera teórica, para aterrissar em solo urbano, através da implantação de novas aplicações. A rede sem fios impulsionará o uso massivo da Internet das Coisas (IoT), como no monitoramento de estacionamentos inteligentes, do gerenciamento de multidões, de sistemas de alertas de enchentes, deslizamentos de encostas e outras emergências, bem como, para o uso seguro de drones e carros autônomos. A rede 5G conta com um desempenho muito superior em relação a geração anterior (4G). Sua velocidade de transferência de dados é até 100 vezes maior, o tempo de resposta do sinal (latência) é quase instantânea (até 100 vezes mais rápida) e ela pode ter 100 vezes mais dispositivos conectados por km2.

No entanto, o uso dessas novas tecnologias enfrenta alguns desafios para que sua implementação seja bem-sucedida. Em relação ao 5G, alguns estudos sugerem que o excesso de exposição à radiação eletromagnética gerada por essa tecnologia pode ter efeitos negativos na saúde humana. É necessário também garantir a segurança e a privacidade dos dados coletados, para que as soluções tecnológicas não sejam usadas de forma abusiva ou discriminatória. Outro desafio é fazer com que que as soluções tecnológicas sejam acessíveis a todos os cidadãos, e não apenas aos cidadãos que possuem capacidade financeira para contratá-las.

Além da responsabilidade dos governos na aplicação dos conceitos de Smart Cities em cidades existentes, as empresas de desenvolvimento urbano têm um papel importante na sua implementação, uma vez que são responsáveis por projetar e construir novos bairros. E além de soluções tecnológicas, essas empresas também devem estar comprometidas com a promoção da sustentabilidade e da inclusão social, contribuindo para a construção de comunidades mais justas e equitativas. 


1. Rudolf Giffinger, R. et al. Smart Cities, Ranking of European medium-sized cities. (2007).

2. Fernandez-Anez, V., Fernández-Güell, J. M. & Giffinger, R. Smart City implementation and discourses: An integrated conceptual model. The case of Vienna. Cities 78, 4–16 (2018).

3. IBGE Cidades - Panorama São Paulo. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/sao-paulo/panorama.

4. Jacobs, J. (1961). The Death and Life of Great American Cities. New York: Random House.


*Texto em coautoria com ChatGPT.

Hamilton Leite é Mestre em Engenharia de Construção Civil e Urbana (Escola Politécnica da USP) e Head São Paulo da Brain Inteligência Estratégica.


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