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Brain | Construção industrializada e o futuro da construção civil

Construção industrializada e o futuro da construção civil

Eduardo Guimarães
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Construção industrializada e o futuro da construção civil

Atualizado por último em setembro de 2022

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Eduardo Guimarães

Diretor Executivo e Sócio Fundador na Guima Arquitetos Associados

Recomeçando no novo ano que se inicia e que apesar do susto com os aumentos de materiais, no segundo semestre do ano passado, começa aquecido no mercado imobiliário.

E isso me traz para o tema de hoje, a construção industrializada.

Construção industrializada em um mercado conservador

O mercado imobiliário é bastante conservador, a começar por seus players, que voluntária ou involuntariamente passam esse mesmo conservadorismo para seus consumidores. Foi assim quando surgiram as paredes de gesso acartonado (os famosos “drywall”), só para citar um dos mais famosos e que até hoje, em determinados empreendimentos, sobretudo residenciais, os consumidores ainda torcem o nariz. Não obstante sua racionalidade e custo, o que fez a indústria imobiliária trazê-lo para o cotidiano, ele ainda é tido como um material de segunda classe. Visto dessa forma, o mercado imobiliário ainda é muito refratário às novidades de sistemas construtivos estruturais e de vedação (o mesmo não se pode dizer quando e tema são os acabamentos) e que ainda insiste em construir no sistema convencional com obras molhadas e artesanais com a fundição de peças estruturais no canteiro e a execução de vedações tijolo por tijolo, que consomem um grande volume de mão de obra desqualificada e gera um desperdício de material obsceno. E me desculpem os conservadores, mas, em que pese as tecnologias incorporadas a esse sistema construtivo tradicional, em pleno século XXI, ainda se constrói como no início do século XX. No Brasil, em termos de inovação, grande parte da produção da construção civil parece que parou no tempo. Vide as tecnologias construtivas das obras mundo afora. Sei que esse é um tema sensível às construtoras e incorporadoras, mas é preciso ampliar e acelerar essa discussão e trazer resultados práticos ao mercado.

A construção industrializada na área residencial sempre foi marginalizada e associada à baixa qualidade, pois na tentativa de se tornarem competitivas, as empresas desse ramo, que usualmente eram pequenas e com limitações de capital e atuavam em um mercado limitado por barreiras culturais da sociedade, inicialmente focaram em cortar custos e não em tecnologia, o que gerou produtos muito ruins como as primeiras casas pré-fabricadas de madeira ou de placas de concreto nas décadas de 1970 e 1980, sem nenhum conforto térmico e acústico e de aparência estética duvidosa. Tanto que era comum os loteamentos fechados de melhor padrão, em seus regulamentos, vetarem a construção desse tipo de casa.

O avanço da construção industrializada no Brasil

Venho estudando a industrialização da construção civil a mais de 25 anos e sempre esbarrando no custo para produtos de qualidade e na falta de tecnologia. E isso vem somar a um mercado conservador e acomodado, avesso a mudanças. Entretanto, nos últimos dez anos, a indústria da construção no Brasil parece que acordou e hoje tenho visto – poucas ainda, é verdade – empresas focadas na produção industrializada de edificações de todo tipo: casas unifamiliares, edifícios multifamiliares, de escritórios, etc. e a custo de mercado. Tudo com muita pesquisa e investimento em tecnologias fabris de qualidade. Empresas estruturadas, com altos investimentos em tecnologia e capacitação de mão de obra, voltadas a produzir edificações de alta qualidade em sistemas racionais, rápidos e financeiramente competitivos.

Então vejamos: por que não disseminar esse conceito no mercado? E não falo de nenhuma inovação. São sistemas construtivos utilizados em larga escala em países como Canadá e Alemanha a várias décadas, que além de bons e racionais, são extremamente rápidos e ecologicamente corretos. Fora o que ainda existe lá fora e que ninguém pesquisou ou se interessou em trazer para cá.

Já pensou em comprar seu imóvel na planta e recebê-lo em 120 ou 180 dias no máximo?

Alguns mais céticos dirão que isso pode causar um grande desemprego na construção civil, que é talvez o setor que mais empregue mão de obra hoje no país. Não é verdade! Está certo que num primeiro momento poderá até haver algum impacto sim, mas na sequência, o que teremos é a qualificação da mão de obra que tem no setor da construção civil, no contraponto à quantidade, os mais baixos níveis de capacitação. E a industrialização não vai acabar com a necessidade de mão de obra, mas sim vai exigir uma transformação na capacitação dessa mão de obra e no aumento de sua produtividade através de sua qualificação.

Em meu escritório temos desenvolvido muitas residências nesse sistema, na tentativa de abreviar prazos, racionalizar custos e logística para nossos clientes. Recentemente fomos procurados por incorporadoras interessadas em desenvolver condomínios residenciais inteiros nesse sistema, tendo essas indústrias como parceiras de suas construtoras. E não falo somente de casas. Prédios com quatro a cinco pavimentos também. E aqui no Brasil, infelizmente ainda temos limitações, mas lá fora, onde esses sistemas já são tradicionais, é usual edificar por volta de doze pavimentos.

Pense nisso: o empreendimento do lançamento à entrega em dez meses!

Entre os sistemas que mais avançam no país é o CLT, abreviação para o termo inglês “Cross Laminated Timber”, ou madeira laminada cruzada em bom português, que consiste em painéis maciços estruturais ou não de madeira certificada e tratada. Temos também o Wood Frame e o Steel Frame sistemas semelhantes que consistem em painéis estruturados em madeira (wood) ou aço (steel) recheados com isolante térmico e acústico, com fechamento em chapas de madeira, gesso acartonado ou painéis cimentícios. São sistemas extremamente seguros, com conforto térmico e acústico semelhantes ao do tradicional tijolinho maciço, produzidos dentro de fábricas, em linhas de montagem como na indústria automotiva, cortados e montados a partir de diagramação eletrônica, que otimiza o uso da matéria prima, gerando produtos com precisão milimétrica. E com a vantagem de poderem receber qualquer tipo de acabamento que desejar, tanto por dentro, quanto por fora.

Sabe aquele cano de água que, segundo o projeto, não deveria estar ali, mas que agora jaz furado, alagando o ambiente. E tudo porque você tentou colocar um quadro na parede? Isso deixa de existir! Na construção industrializada, todos os projetos são desenvolvidos no sistema BIM (Building Information Modelling), perfeitamente compatibilizados e portanto, o cano estará passando exatamente onde consta no projeto, com precisão. E não onde o pedreiro improvisou na hora da execução.

Muito ainda há que se vencer e aprender. Visitei uma indústria que encarece seu produto, dobrando desnecessariamente as espessuras das chapas de revestimento, apenas para vencer a barreira cultural. Para que o consumidor, ao bater na parede ouça um som semelhante ao de uma parede de alvenaria. Um absurdo que as empresas enfrentam por puro preconceito.

O Brasil ainda vai assentar muito tijolo furado e depois acertar o prumo no emboço, mas, é fato, que isso vai se reduzir a umas poucas construções artesanais. A decisão e o futuro estão nas mãos das incorporadoras e construtoras, maiores produtoras da construção civil e grandes transformadoras da opinião pública e espero, para seu próprio bem (e de seus acionistas), que elas se voltem para a industrialização com mais celeridade. E hoje, com a velocidade da informação pelas redes digitais, é muito mais fácil difundir novos conceitos de qualidade do que no passado.

Esse é um tema promissor e essa é só uma primeira abordagem para aquecermos a discussão, pois cada vez mais acredito que somente pela via da industrialização é que o mercado imobiliário poderá deixar de ser tão amador em suas previsões de prazo de entrega e custo de obras… entre outros fatores.

*O conteúdo deste texto foi redigido por terceiros e pode não refletir a opinião da Brain Inteligência Estratégica.

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